terça-feira, 28 de abril de 2009

TUDO A SEU TEMPO


Você S/A
18/07/2006
REF: Vida Corporativa - Planejamento Profissional
Qual é o tempo certo para cada passo na carreira e na vida? Ele depende da história de cada um, mas conhecer o senso comum dá tranqüilidade para galgar os próximos passos
Por Fabiana Correa


TEMPO DE APRENDER
A aceleração a que Stella se refere é uma das principais preocupações em seu trabalho de orientação. "A velocidade nas carreiras está levando as pessoas a serem líderes e assumir responsabilidades antes de estarem preparadas", diz. "Acho temeroso, por exemplo, ser diretor financeiro aos 28 anos. Quantas crises econômicas essa pessoa acompanhou? Ela tem maturidade para tomar decisões tão essenciais para a empresa?", questiona Stella. Ou seja, o tal tempo certo ainda muda de acordo com a carreira escolhida. Gerir pessoas, por exemplo, requer experiência de vida e algumas qualidades que, em tese, só são adquiridas com a idade. "Aos 25 anos, ainda é hora de cuidar de si, não dos outros. É uma fase mais individualista", diz Denise Rodrigues, sócia da Loyelo & Rodrigues, de São Paulo, que faz trabalho de coaching para executivos de grandes empresas. Por isso, o momento deve ser de preparação para quando chegar a oportunidade de subir na hierarquia. Preparação profissional, acadêmica e também emocional e psíquica.
Em boa parte da primeira década de carreira, incluindo a faculdade, estamos prontos para aprender. É o auge da absorção de conhecimento. Portanto, é necessário investir no aprendizado. "Esteja atento ao seu currículo acadêmico. Idiomas e graduação de qualidade são essenciais", diz Denise. O gaúcho Leandro Bier, de 36 anos, usou essa capacidade de aprendizado intensamente a favor da mudança de carreira. Depois de se formar em comunicação, partiu para pós-graduação em relações internacionais na Alemanha no ano seguinte, ainda com 24 anos. "Não queria trabalhar em agência de publicidade e essa foi uma maneira de ir para outro mercado." Assim, ele pôde começar a carreira em multinacionais. Três anos depois, viu a possibilidade de ganhar espaço na empresa de telecomunicações em que trabalhava com um curso na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, sobre mercados emergentes. "Era a época das privatizações, a empresa estava chegando ao Brasil e o curso era muito atual", diz Leandro. "Até os 28 anos, tradicionalmente, é o momento em que estamos mais abertos ao aprendizado", reforça a psicóloga Simone Figueiredo, da Clínica Tobias, de São Paulo, que desenvolve um trabalho autobiográfico com seus pacientes.


TEMPO DE SUBIR
A linha de terapia seguida por Simone, orientada pela medicina antroposófica, divide a vida em períodos de sete anos. Os quatro primeiros ciclos, do 0 aos 28 anos, são o período em que o aprendizado é mais intenso. O próximo setênio, até os 35 anos, diz respeito à entrada definitiva na fase adulta. Isto é, ao amadurecimento.
A consultora Rugênia Pomi, presidente da Sextante Brasil, de São Paulo, empresa de pesquisa em gestão de pessoas. Rugênia desenvolveu uma pesquisa informal para entender as escolhas profissionais e pessoais dos brasileiros. "Chegando aos 30, começa o amadurecimento psíquico mais intenso. É também a fase da busca de status e prestígio", diz Rugênia. Simone confirma a tese. "É o auge da busca de bens materiais, que dura até os 50 anos." (Ufa, que alívio, ainda tenho algum tempo para fazer minha poupancinha...) Nesse período, a juventude física, aliada aos objetivos sociais e financeiros -- casamento, casa própria e estabilidade futura --, leva à dedicação intensa ao trabalho. É a fase em que se sobe mais rápido: as experiências e o amadurecimento obtidos contribuem para que se ambicione os primeiros saltos na carreira.
Considerando o contexto atual das empresas, é exatamente depois dos 30 anos que surgem as oportunidades em gestão de pessoas. "Nessa fase, o profissional já não está mais tão autocentrado, já pode se dedicar a desenvolver o outro", diz Denise Rodrigues. "Quem merece mais respeito e tem mais autoridade natural? Um chefe de 20 ou um chefe de 40?", questiona Simone. A paulistana Regina Lemgruber, de 37 anos, diretora de logística da Procter&Gamble, em São Paulo, vê bem essa mudança. "Chefio cem pessoas e posso dizer que minha experiência de vida, incluindo aí o tempo que trabalhei no exterior, me deu ferramentas para entender melhor os outros", diz. "Antes, quando via alguém deixar uma reunião para buscar o filho na escola, achava absurdo. Hoje, depois da chegada das minhas filhas, sei que é absolutamente normal que aconteça."

Nenhum comentário:

Postar um comentário